quinta-feira, 15 de julho de 2010

A primeira refeição do dia.

Como vimos em um post passado (Cama, comida e ... metabolismo ?! ), após um longo jejum o corpo sofre várias alterações a fim de contrabalancear o estado adverso, em se tratando de nutrição, que o sono representa.
Discutiremos então, como suprir, repor e compensar a demanda energética não abastecida durante a noite. Com as reservas de glicogênio hepático e muscular comprometidas, entra em cena um novo hormônio: o cortisol, excretado pelas glândulas supra-renais, ao entrar na corrente sanguínea, transportado por albuminas específicas, e chegar aos sítios de destino, os hepatócitos, estimula a produção e ativação de enzimas usadas para a mobilização de peptídeos de tecidos extra-hepáticos (principalmente músculos esqueléticos) e conversão destes em glicose, ativando assim a via gliconeogênica, agora, comprometendo por sua vez o pool protéico.

É importante estruturar a 1ª refeição, de modo a reabastecer de forma eficiente as reservas energéticas depletadas anteriormente. Para indivíduos saudáveis, a composição tradicional de uma refeição usa valores de referência entre 45-65%, da
quantidade de calorias totais, provindas de carboidratos, 20-35% de lipídeos e 15-20% de proteínas e aminoácidos. Uma vez que a situação (hormonal, bioquímica, fisiológica...) que o corpo encontra-se é de grande alteração em relação ao estado consciente/pós-alimentado, acreditamos que a proporção de macronutrientes também deva ser alterada.

A quantidade de lipídeos, apesar de muito calórica (9 kcal/g), deveria ser diminuída, baseando-se no aumento do tempo que uma grande quantidade de gordura proporcionaria na digestão dos outros nutrientes. A porção de proteínas, por sua vez, deverá ter um discreto aumento, para que se possa repor todo o aminoácido que, após a atividade proteolítica, é degradado à ureia e posteriormente eliminado pela urina, retomando assim o balanço nitrogenado como neutro ou mesmo positivo.

A grande chave no sucesso do reestabelecimento da homeostase encontra-se então no uso dos glicídios: de acordo com o índice glicêmico (I.G.) dos carboidratos ingeridos, a resposta insulinêmica poderá ser maior e mais veloz, ou o contrario caso o I.G. seja baixo e de acordo com a estrutura e tamanho de cada um, o tempo de transporte desde o momento em que é absorvido pelo intestino delgado até o momento em que entra no citossol de alguma célula também iria variar muito. Visando-se a rápida reposição do glicogênio depletado, o alto I.G. é mais eficiente, por exemplo: com o consumo de grande quantidade de um açúcar simples, como a sacarose, uma descarga de insulina acabaria com a produção de glucagon, o que por sua vez desativaria a glicogenólise e a gliconeogênese. Uma vasta quantidade de glicose livre circulante na corrente sanguínea seria transportada (pelos GLUT’s) para dentro das células, uma vez lá, dois caminhos primordiais podem ser seguidos: glicólise ou glicogênese. Já com o consumo de um carboidrato com índice glicêmico menor e com estrutura maior (e.g. amido, como o de um tubérculo) tomaria o mesmo caminho, porém mais lentamente, o que não seria interessante e eficiente no momento em questão.

Levando em conta a individualidade biológica de cada um, os valores e a proporção de nutrientes podem variar, as idéias aqui apresentadas não são regras, as demandas energéticas e de necessidades metabólicas são extremamente dinâmicas, assim como as mudanças na dieta devem ser, para que se possa acompanhar essa grande variação.

Heibel, A. B.
Referências
:

-Bioquímica Básica - Marzocco & Torres, 2ª edição, editora Guanabara Koogan;
-Bioquímica- Stryer, L. 4ª edição, editora Guanabara-Koogan;
-Tratado de fisiologia médica- Guyton e Hall, 11ªedição, Guanabara Koogan.
-Nutrição moderna na Saúde e na Doença-9ª ed. Shills et al.

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